A VOZ DO PADREARTIGO

Artigo: Você sabe o que é Cristofobia?

Quando olhamos para a história da Igreja percebemos que o cristianismo foi um dos principais responsáveis pela formação de muitas sociedades e de seus valores culturais e religiosos. Podemos dizer com toda propriedade que o cristianismo é perito em humanidade!

Todos nós sabemos que a religião cristã foi formadora das consciências individuais e coletivas por muitos anos. A história nos mostra que a revolução francesa, por exemplo, com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, trouxe uma mudança de paradigma para a humanidade. A religião cristã, sobretudo, deixou de ser o centro da civilização ocidental. Com isto, em muitos casos, os valores passaram a ser outros e não mais os professados pela fé. O homem passou a pensar a partir de si e das ciências naturais, e não mais da sua crença.

Infelizmente, existe uma certa política em meio à religião, já que somos seres políticos, essencialmente! E, obviamente, nem sempre a política dentro da igreja é saudável na relação entre os fiéis e o clero e/ou entre os membros do clero.

Dando um salto no tempo, vemos que aquilo que foi utilizado pela religião, hoje é o meio que a sociedade utiliza para expandir seus ideais (claro que não é unanimidade !) que nem sempre são aceitos pela religião, por não estar em sintonia com os valores do Evangelho.

Frente a esses embates, surge o que denominamos de perseguição religiosa, que pressupõe a ameaça a direitos de expressão e culto religioso (liberdade religiosa) e de ataque físico e simbólico a templos, igrejas, e de pessoas, chegando até à morte.

Ontem celebramos a exaltação da Santa Cruz e hoje Nossa Senhora das Dores. A dor e o sofrimento são elementos de purificação e ascese cristã do cristianismo. Eles nos levam a contemplar o sacrifício redentor do Senhor que salvou a humanidade. É caminho de purificação, de maturidade cristã diante dos desafios da vida! A cruz expressa a dor e o sofrimento que venceu o horror da violência e da morte! Não é possível concebermos um cristianismo sem a cruz!

Podemos definir a cristofobia como a aversão (o que gera a perseguição!) a Jesus Cristo e a tudo o que a Ele se relaciona. Ela, a cristofobia, assume contornos de hostilidade, de ódio, de violência ao ser humano por sua opção de fé e de identidade com o Cristo. Para nós cristãos, os ataques por via da intolerância religiosa e ao indivíduo em si (cristofobia) é uma dor que atinge todo o corpo místico de Cristo, que é a Igreja.

Hoje me deparei com a notícia do martírio de um seminarista que foi queimado vivo na África. Tão chocante quanto doloroso!! Isto me levou a refletir nas dores da Igreja; nas dores do santo padre; nas dores do próprio Jesus e, nas nossas dores de cada dia… Estive a pensar que o que pode ser doloroso demais pra mim, na verdade, é muito pequeno perto das dores de outras pessoas que, verdadeiramente, sofrem situações bem mais impactantes!

Como não se comover com a dor de uma mãe que perde o seu filho (a) para as drogas ou é vítima de “bala perdida”? Como não se abalar quando vemos um enfermo agonizando por meses ou até anos com uma doença grave? Como não se compadecer com a cena de um pai que não consegue colocar comida na mesa?

Mas dor é dor e, cada um tem a sua e sente (e sofre!) de modos e com intensidades diferentes, certamente! Vencer a dura peleja da vida é nosso desafio diário desde que ganhamos a vida!

Voltando ao tema central da nossa reflexão, podemos afirmar que é um absurdo querer banir do horizonte social a liberdade de escolha pessoal de cada indivíduo ou grupo. A humanidade precisa reencontrar o caminho do diálogo, do respeito e da liberdade entre todos! Por outro lado, nós cristãos, não podemos também querer impor nossos valores à sociedade. A liberdade de expressão é um direito conquistado que deve prevalecer. Não vivemos numa teocracia e nem numa cristandade, por isso repudiamos todos os ataques cristofóbicos e a intolerância religiosa que tem acontecido de forma constante entre nós.

Todo ser humano tem seu direito de viver, professar sua fé ou não na liberdade que o estado lhe assegura.

Torçamos para que, a cada dia, possamos triunfar com sabedoria e discernimento sobre o mal e suportar com resignação e piedade as nossas dores, de modo que mereçamos no céu um lugar junto àquele que tanto sofreu por nós!

Que a Virgem Maria, a Senhora das Dores, nos ajude a fazer das dores, sofrimentos e da hostilidade à fé cristã, um caminho de Salvação.

Pe Marcelo Campos da Silva D’ippolito
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Rio das Ostras/RJ

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