A VOZ DO PADRE

Como anda seu pastoreio?

Hoje, ao me deparar com uma imagem que trazia uma ovelha assustada, um lobo a persegui-la e Jesus Cristo mais ao fundo vindo socorrer a ovelha, me peguei pensando: como está o meu pastoreio e, através deste questionamento eu transfiro a provocação a todos os que forem atingidos por este texto…

Antes de tudo, é imprescindível relembrar que o pastor dos pastores é Jesus. Ele deu a sua vida pelas ovelhas (Jo 10,11) como nos ensina as Escrituras. Sendo o Bom Pastor, Ele conhece as suas ovelhas e as ovelhas o conhecem (Jo 10,14).

Quando se fala de pastoreio numa dimensão eclesial logo se pensa que pastor é somente os padres e bispos ou ainda num contexto mais usual, aqueles que se dedicam à evangelização nas diversas denominações protestantes.

No nosso caso em particular, por ofício da vocação e do sacramento da ordem, temos o múnus de pastorear o Povo de Deus, assim, pastor é todo aquele que, provisória ou frequentemente, se detém no cuidado para com o outro.

O Concílio Vaticano II, deu destaque à tríplice missão dos leigos: o múnus sacerdotal, profético e real. Na exortação Pós-Sinodal Cristhifidelis Laici, São João Paulo II salienta a missão sacerdotal do cristão leigo, afirmada pela constituição dogmática Lumen Gentium no número 34: “Os fiéis leigos participam no múnus sacerdotal pelo qual Jesus se ofereceu a Si mesmo sobre a Cruz e continuamente se oferece na celebração da Eucaristia para glória do Pai e pela salvação da humanidade. Incorporados em Cristo Jesus, os batizados unem-se a Ele e ao Seu sacrifício, na oferta de si mesmos e de todas as suas atividades (cf. Rom 12, 1-2)”.

O Catecismo da Igreja Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão sacerdotal de Cristo: No número 901 diz assim: “Os leigos, em virtude de sua consagração a Cristo e da unção do Espírito Santo, recebem a vocação admirável e os meios que permitem ao Espírito produzir neles frutos sempre mais abundantes. Assim, todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo as provações da vida, pacientemente suportadas, se tornam ‘hóstias espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo’ (l Pd 2,5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia. É assim que os leigos consagram a Deus o próprio mundo, prestando a Ele, em toda parte, na santidade de sua vida, um culto de adoração”.

Portanto, a missão de pastorear, de cuidar e proteger as ovelhas que são do pastor por excelência é de todo o povo sacerdotal: pastores e fiéis leigos! Certamente vamos observar com atenção que a sabedoria, o discernimento, alguma destreza espiritual e sensibilidade não podem ser esquecidas neste processo do pastoreio.

Hoje, em torno dos muitos lobos revestidos de “pastores” é urgente que todos na Igreja assumam essa missão de cuidar das ovelhas do Senhor. Há muitos inimigos de Deus furiosos, desejosos de engolir suas “ovelhas”. Apesar de nossas falhas nessa dimensão da vida pastoral, o Senhor Jesus está vindo sempre em nosso socorro livrando-nos das fúrias dos lobos que querem nos devorar.

É preciso nos perguntarmos se estamos atentos a esta missão que o Senhor Jesus nos confiou! O pastoreio é urgente em nosso tempo de tantos lobos infiltrados entre nós com o verniz de defensores da tradição, da família e de uma política ideológica salvadora de uma sociedade pensada para ser a perfeita e ideal, bem distante do senso comum.

O que deve prevalecer são os valores do Reino de Deus que não estão atrelados às falácias do que muitas vezes se propagam pelos lobos ferozes.

Precisamos abandonar uma visão da fé mantenedora de uma vivência de regras caducas e por vezes reducionistas que tendem a nos levar a um individualismo sem comprometimento com o nosso irmão. Infelizmente, esse tipo de culto está muito enraizado entre nós e é por isso que não temos o compromisso de nos pastorearmos mutuamente, porque não nos sentimos responsáveis uns pelos outros.

A fé cristã não é somente uma repetição de novenas, de práticas devocionais, momentos rituais encerrados num fechamento descompromissado com o irmão e com as injustiças sociais geradas pelo sistema ganancioso.

O pastorear nos leva a nos desinstalarmos de uma prática de fé puramente desencarnada da vida e nos leva a olhar o irmão a partir de Jesus, que nos vê por inteiro. O pastor não pode deixar de lado o profetismo,(que é justamente a condição de anunciar e denunciar), sendo parte integrante da missão confiada a nós por Aquele que dá a vida pelas ovelhas!

Peçamos as luzes do Espírito Santo de Deus e a presença maternal da Virgem Imaculada para despertar em nós o compromisso com o pastoreio das ovelhas do seu Filho e nosso irmão Jesus Cristo. Sejamos corajosos e destemidos na missão de vivermos uma fé encarnada no chão e na realidade que vivemos.

Portanto, trabalhos, orações, empreendimentos, vida sacerdotal, conjugal e familiar, comodidades da vida, sacrifícios pelos outros, tudo oferecido ao Pai, na Eucaristia… São maneiras de exercermos o múnus sacerdotal participando da missão sacerdotal de Cristo, assim estaremos juntos nos pastoreando, cuidando uns dos outros na construção do Reino de Deus.

Padre Marcelo Campos da Silva D’ippolito
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Rio das Ostras/RJ

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