A VOZ DO PADREFormação

O esvaziamento da Eucaristia

A palavra Eucaristia quer dizer ação de graças, é o sacramento do amor e do encontro pessoal de Cristo com o homem. A Eucaristia é o ágape (a festa, o banquete) da memória: “Façam isso para celebrar a minha memória”.

Lamentavelmente percebemos um esvaziamento espiritual da Eucaristia quando a colocamos apenas numa dimensão tanto quanto individualista. É mister entender que a missa não é mais o sacrifício do cordeiro, não é mais a ceia sacrifical do Senhor, ela não é apenas um encontro de pessoas que se colocam como se fossem “donas de um mistério” que não lhes pertence. Não é questão de tradicionalismo, é uma constatação de que os absurdos em nome de um protagonismo foi de forma perversa roubando e diluindo o sagrado da memória do Cordeiro. Por outro lado, há o extremismo daqueles que ficam num saudosismo tridentino (Rito de São Pio V). Em tudo se deve buscar o equilíbrio!

O grande sacrifício na Missa não somos nós que fazemos, como se tivéssemos méritos para isso, mas é aquele realizado por Jesus Cristo no altar da cruz, realizado, uma vez por todas, que é atualizado em cada celebração eucarística.

Na cruz, a imolação da vítima já foi realizada, numa morte cruenta, ou seja, com o derramamento de sangue. Na Eucaristia, o sacrifício é incruento, sem efusão de sangue, atualizando o grande sacrifício de Cristo pela humanidade inteira.

Quando vemos que muitos se contentam em participar de uma celebração da palavra de Deus tendo ao seu alcance a possibilidade de participar do sacrifício do Cordeiro, percebe-se que há nessas pessoas um possível esvaziamento da sua espiritualidade eucarística. Para os que estão privados, por algum motivo da presença do sacerdote, a Igreja (como Mãe e Mestra) oferece tal possibilidade da participação numa celebração da Palavra.

Mas, voltemos a tratar do esvaziamento… Se falamos num tal esvaziamento, talvez se deva dizer antes sobre a construção de uma espiritualidade eucarística. Então, devemos nos questionar como anda e como é a nossa relação com Jesus Eucarístico. Por exemplo: tenho consciência que ali está, tal como está no Céu, Ressuscitado e Glorioso, (Corpo, Sangue, Alma e Divindade) o Filho de Deus Vivo? E ainda , quanto tempo consigo ficar diante de Jesus sentindo sua presença santa e O amando? Indo mais além, reconheço na Figura de Jesus Eucarístico, aquele que governa a minha vida? Ouvimos tantas vezes que o Amor não é Amado; cruzamos nosso olhar com o Dele tantas vezes também e nos mantemos indiferentes; Temos a oportunidade, noutras vezes, de visitá-lO nos sacrários, onde Ele amorosamente se deixa encontrar, e o que fazemos??? A pergunta ficará, propositalmente, sem resposta! A resposta somos nós, diante da nossa consciência, que a daremos!

A Eucaristia é o grande mistério da nossa Igreja, só aceito pelo povo crente pela fé. Eucaristia é mistério da fé! É o ponto alto, o ponto central da missa. Por esta razão, a missa deve ser sempre o centro da vida do cristão, pois Cristo é o centro da celebração da missa na Eucaristia. O pão e o vinho, fruto da videira e do trabalho do homem, consagrados no altar, transubstanciam-se, ou seja, trocam de substância (sem contudo, mudar a matéria), após a consagração, para Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.

A Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia estão unidos mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo une a todos os fiéis em um só corpo: a Igreja. A comunhão renova, fortalece, aprofunda esta incorporação à Igreja, já realizada no batismo.

Ouso dizer que a eucaristia não é mais entendida na sua verdade de presença sacramental do sacrifício reconciliador e como dom do Corpo e do Sangue de Cristo. Ela tem se tornado, em muitos casos, celebração do povo na sua luta e é necessário dizer que há um verdadeiro esvaziamento da teologia para uma “sociologia eucarística”, por conseguinte, a unidade a reconciliação a comunhão no amor, não mais são concebidas como um dom que recebemos de Cristo e sim das nossas lutas e estas são importantes, mas não é lícito desfigurar o que, apesar de nos pertencer (já que Deus se dá a todos que O buscam!), nos transcende!

O Papa Francisco em uma das suas catequeses sobre a Santa Missa afirmou: “Celebramos a Eucaristia para nos nutrirmos de Cristo, que doa a si mesmo quer na Palavra, como no Sacramento do altar para conformar-nos à Ele”.

Continua Francisco: “O gesto de Jesus, que deu aos seus discípulos o seu Corpo e o seu Sangue na última Ceia, continua ainda hoje, pelo ministério ordenado do sacerdote, proporcionando aos irmãos o Pão da vida e o Cálice da salvação”.

Precisamos reencontrar o caminho da Igreja primitiva onde os discípulos já se reuniam para a “fração do pão”. São Justino, Mártir no século II, já descrevia na celebração da Eucaristia dois elementos essenciais que perduram até os dias de hoje: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Durante a Santa Missa, os fiéis se alimentam do Pão da Palavra e do Pão da Eucaristia.

Muitos cristãos foram martirizados porque foram encontrados celebrando a Eucaristia. Hoje em dia ainda existem mártires da Eucaristia? Sim, onde a Igreja é perseguida nos países que vivem um totalitarismo religioso.

Por que os mártires e confessores morriam felizes? Porque encontravam no autêntico testemunho da sua fé o sentido de suas vidas! Hoje em dia é triste constatarmos que a diferença entre os que se dizem católicos e os que “assistem” a Santa Missa aos domingos é imensa! Talvez nos falte compreender melhor a centralidade da Eucaristia em nossas vidas, já que ela é o coração da Igreja, e esta, vive da Eucaristia.

Concluo com um belíssimo testemunho de Santo Inácio de Antioquia que nos diz: “Na Eucaristia, nós partimos o único pão que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre’” (Santo Inácio de Antioquia).

Padre Marcelo Campos da Silva D’Ippolito
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Rio das Ostras/RJ

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